domingo, 6 de julho de 2008

O beijo da morte


"Why do schools teach almost nothing of the pattern which connects? Is it that teachers know that they carry the kiss of death which will turn to tastelessness whatever they touch and therefore they are wisely unwilling to touch or teach anything of real-life importance?"
(Gregory Bateson, Mind and Nature. London, Wildwood, 1979)

"No nosso sistema de ensino, o professor ideal é apenas um "transmissor de conhecimento". Elephant talk. Os alunos provavelmente sairão dali sem ter aprendido a pensar, porém sabendo um monte de teorias, e provavelmente confundirão "saber um monte de teorias" com "pensar". Os professores, por sua vez, se sentirão muito cômodos repetindo teorias (pensar lhes traria muitas rugas). Esse sistema de ensino é o que Gregory Bateson chamou de "beijo da morte".

Diante desse quadro, o pensador tem ao menos duas alternativas. Ele pode trabalhar os problemas por conta própria, diretamente, sem referir-se necessariamente aos outros pensadores que o forçaram a pensar aqueles problemas, mas nesse caso ele dificilmente se tornará um professor, e é provável que não seja levado a sério (se chegar a sê-lo) senão depois de morto; ou ele pode mascarar os "seus" problemas nas referências a outros autores, capturando assim o desejo daqueles alunos que têm "sede de saber" (pelas referências), mas também o desejo daqueles que querem pensar (pelos problemas neles mesmos). As duas saídas são igualmente vitais, mas a segunda é sem dúvida mais engenhosa, pois torna o pensador imune aos ataques dos que não suportam que se grite que o rei está irremediavelmente nu."

http://triagem.blogspot.com/2006/01/cultura-e-morte-hors-numrotage.html

domingo, 29 de junho de 2008

Gregory Bateson (Biografia)




Gregory Bateson (Grantchester, Inglaterra, 9 de Maio de 1904 — São Francisco, Califórnia, 4 de Julho de 1980) foi biólogo e antropólogo por formação. Contudo, como grande pensador sistêmico e epistemológico da comunicação, incorreu também pela psiquiatria, psicologia, sociologia, linguística, ecologia e cibernética. Seu pai William Bateson (1861-1926), biólogo inglês conhecido como o pai da genética, foi quem usou pela primeira vez na história da humanidade o termo genética para descrever o estudo da variação e hereditariedade, em 1905 - um ano depois de Gregory nascer. Gregory nasceu britânico em 1904, mas naturalizou-se norte-americano em 1956. Casou-se pela primeira vez com Margaret Mead (1901-1978) para separaram-se em 1951, guardando todavia admiração recíproca e cumplicidade intelectual até suas mortes, ambas de cancro. Nos Estados Unidos, Califórnia, Bateson uniu-se ao grupo da chamada Escola de Palo Alto (conhecida como o Colégio Invisível) e ao Mental Research Institut (MRI). A partir desta experiência, foi publicado em 1981 o livro La Nouvelle Communication, com várias reedições desde então. Na primeira parte, é feita uma apresentação geral e histórica da eclosão da Escola de Palo Alto, descrevendo seus componentes e sintetizando os principais empreendimentos. Na segunda parte do livro, Yves Winkin oferece, para cada dos integrantes do Colégio Invisível, um texto representativo do pensamento de cada um dos autores, seguido de uma entrevista com eles - Bateson, Ray L. Birdwhistell, Erving Goffman, Edward T. Hall, Donald deAvila Jackson, Albert E. Scheflen, Stuart Sigman e Paul Watzlawick, todos antropólogos ou psiquiatras. Talvez a coisa mais extraordinária sobre as ideias e contribuições de Gregory Bateson é que elas se estendem por muitos campos diferentes. Como antropologista, por exemplo, Bateson estudou a cultura balinesa com Margaret Mead (sua primeira esposa) e juntos publicaram um livro no qual a fotografia foi usada pela primeira vez para analisar os padrões culturais. Esses estudos levaram Bateson a formular as noções dos relacionamentos 'complementares,' 'simétricos' e 'recíprocos,' junto com as noções de 'esquizomogenese' e 'ethos' dentro de uma cultura. As suas observações das culturas não ocidentais também o levaram a propor a ideia do aprendizado "cinestésico". De facto, foi o seu estudo sobre a dança do transe em Bali que o levou para seu primeiro contacto com Milton Erickson nos anos 30 (através do amigo comum Aldous Huxley). Como um teorista de sistemas, Bateson participou da famosa conferência de Macy (em 1949) que deu nascimento ao campo da cibernética. Na área do comportamento animal e da teoria da comunicação, ele utilizou o trabalho de Russell e Whitehead para identificar os diferentes tipos lógicos e níveis de comunicação e do aprendiz que explicavam muitos dos problemas e anomalias no behaviorismo. As pesquisas de Bateson também incluíram o estudo da lida com animais, e a comunicação entre golfinhos e botos. À frente do seu tempo em muitos aspectos, algumas das descobertas e teorias de Bateson estão sendo colocadas em prática agora.

"Todas as crianças sabem"(Natureza e Espirito pags. 87-118)

A ciência, tal como a arte, a religião, comércio, a guerra e até o sono, baseiam-se em pressupostos. Difere apenas pelo facto dos caminhos do pensamento científico serem determinados pelas crenças dos cientistas, mas também porque os seus objectivos são a experimentação e a revisão dos velhos pressupostos e a criação de novos.
É desejável que o cientista conheça e seja capaz de expor os seus postulados. Para um juízo científico é conveniente conhecer os dos colegas que trabalham no mesmo campo.
É necessário que o leitor de assuntos científicos conheça os pressupostos do autor.
Existem lacunas na maneira de pensar derivada de uma falta de certos instrumentos do pensamento. Esta falta está distribuída de uma forma bastante equiparada pelos níveis de ensino, entre estudantes (ambos os sexos) e tanto entre os humanistas como cientistas.
Trata-se duma falta de conhecimento das preposições tanto da ciência como da vida quotidiana.
Esta lacuna é menos visível em dois grupos de estudantes: os católicos e os marxistas. São grupos difíceis de ensinar, pois dão importância ás premissas correctas que a heresia se transforma numa ameaça de excomunhão.
Naturalmente, alguém que pense a heresia é um perigo, dar-se-á ao cuidado de estar consciente das suas próprias pressuposições e desenvolverá uma espécie de perícia sobre estes assuntos.
Aqueles que não sabem que é possível estar errado, não podem aprender nada excepto o saber fazer.
As pressuposições são matéria que vai sendo trazida para a luz.
Os Americanos têm uma resposta estranha para qualquer afirmação articulada dum pressuposto, sendo tal, afirmação entendida como hostil, trocista ou autoritária.
Nesta nação criada em nome da liberdade religiosa, o ensino da religião é banido do sistema do ensino oficial. Aos membros das famílias religiosas de recursos económicos inferiores não é facultada qualquer educação religiosa fora da família.
Afirmar uma premissa ou uma pressuposição é desafiar a resistência subtil da surdez cultivada que as crianças utilizam para afastar as afirmações dos pais, professores e autoridades religiosas.
Este capítulo debruça-se sobre um conjunto de pressuposições cujo pensamento tem sido protegido da noção desagradável de que algumas delas estão simplesmente erradas. Há instrumentos do pensamento de tal modo embotidos, que são inúteis; outros são tão exactos, que são perigosos. Mas o Homem sensato aproveitará tanto uns como os outros.
Vale a pena tentar um reconhecimento experimental de certas pressuposições básicas, que todos os espíritos têm de partilhar, ou de um modo oposto, vale a pena tentar uma definição de espírito, através da comunicação das tais características básicas da comunicação.



Realizado por: Filipa Araújo 52318

“Estilo e significado”(Pasos hacia una ecologia de la mente_pag156)

Dizem que cada quadro explica uma história, isto generaliza-se a maior parte da arte, mas o que interessa não é saber o relativo a historia, mas sim descobrir que informação psíquica importante existe referente ao objecto de arte, sem dar importância ao que realmente significa.
O código mediante o qual os objectos ou pessoas (ou ate seres sobrenaturais), faz com que estes se transformem em madeira ou pintura constitui uma fonte de informação sobre o artista e a sua cultura. O que interessa então, é desvendar esse código, as regras dessa transformação, e não a mensagem que este pretende transmitir. Ou seja, o importante não é o significado da mensagem, mas sim o significado do código escolhido.
A partir da parte superior da terra de uma árvore é possível sabermos que por debaixo da mesma existem raízes, assim sendo, o importante é ter um sistema conceptual que nos obrigue ver a mensagem, ou o que é o mesmo, o objecto de arte, ao mesmo tempo que forma parte de um universo maior, a saber a cultura ou alguma parte referente a mesma.
Se aquilo que o artista se propõe é mostrar algo referente aos componentes do inconsciente da sua obra, seguidamente terá de encontrar uma escada mecânica acerca da mesma posição que pretende mostrar.

Realizado por: Carina Afonso 52329

"Múltiplas versões do mundo" ( Natureza e Espirito pags: 131-133)

É importante focar as variações da combinação, as quais parecem dar ao organismo informação perceptível acerca do mundo que nos rodeia ou acerca dele próprio como parte desse mundo exterior como quando uma criança vê o seu próprio dedo do pé).
De todos os exemplos o mais simples mas ao mesmo tempo o mais profundo é o facto de serem necessárias, pelo menos, duas coisas para criar uma diferença (o caso da diferença).
Para produzir sinais de diferença, isto é, informação, têm de existir duas entidades (reais ou imaginarias) de tal modo que a diferença entre elas possa ser imanente á sua relação mútua.
Existe uma questão profunda e sem resposta sobre a natureza destas «pelo menos duas» coisas que geram entre elas a diferença que se torna informação através da construção da diferença.
Cada uma é uma não-identidade, um não-ser. Não é diferente do ser nem do não-ser.
A matéria da sensação é então constituída por um par de valores variável, apresentada durante algum tempo a um órgão dos sentidos cuja reacção depende da proporção entre membros do par.
Entre os seres humanos, a capacidade de descrição e a explicação são altamente valorizadas, mas o exemplo da informação (e da informação dupla) é de certa forma bastante importante (caso da descrição, da tautologia e da explicação).
Grande parte da informação presente nas descrições é habitualmente atirada fora, e só uma pequena parte daquilo que devia ser explicado é, de facto, explicada. As explicações são duma importância enorme, e concedem um ganho de discernimento sobre aquilo que está contido nas descrições. Para examinar qualquer caso é necessário indicar primeiro breves definições das três palavras: descrição, tautologia e explicação.

Realizado por: Filipa Pereira 52324

“Diferenças que podemos esperar entre grupos nacionais”(Pasos hacia una ecologia de la mente, pags 121-125)

Ao contrário de desesperar perante o facto de que as nações estão sumamente diferenciadas, temos que tomar as dimensões destas diferenças e transforma-las em chaves do carácter nacional.
Podemos referir uma pequena lista de características bipolares, como por exemplo: domínio – submissão; auxílio – dependência, as quais estão claramente presentes em todas as culturas ocidentais.

_ Alternativas da bipolaridade:
Quando apelamos a bipolaridade como forma para controlar a diferenciação dentro da sociedade sem renunciar a alguma noção de estrutura de carácter comum, considerávamos apenas a existência de uma bipolaridade simples. Padrão este muito comum na sociedade ocidental, tomemos como exemplo a diferenciação entre politicas de direita e esquerda; Deus e Diabo, entre outros, chegando ate a impor padrões bipolares frente a fenómenos que não são de natureza bipolar, como por exemplo: juventude – idosos. Esta clara tendência para padrões bipolares não deve restringir-nos para o aparecimento de terceiros, ou seja, o aparecimento de um terceiro partido político não deve ser considerado como uma ameaça a estabilidade ate então mantida.
Curiosamente, na Inglaterra existe tendência para formar sistemas compostos por três fenómenos: rei – ministros – povo; pais – ama – bebé. Isto acontece por simples hierarquia e não porque seja um triângulo. Ou seja, trata-se de um sistema no qual a comunicação entre A e C apenas existe porque passa por B. a função do componente intermédio passa por instruir e disciplinar o terceiro na forma que este -devera adoptar para se relacionar com o primeiro.

_ Motivos simétricos:
Existe contudo, toda uma conduta interpessoal humana que não se ajusta a bipolaridade referida anteriormente. Para além destes, teremos que considerar toda uma serie de existência de padrões simétricos, dentro dos quais as pessoas respondem a algo que os outros fazem, fazendo elas mesmas algo similar. Podemos considerar dentro destes os padrões competitivos, nos quais os indivíduos ou grupo são levados a fazer o mesmo que os outros a propósito de obter melhores resultados, ou os padrões complementários de domínio – submissão, nos quais o estímulo que leva a que A faça maiores esforços do que B seja o factor debilidade.
É provável que ambos os padrões contrastantes existam com potencialidades iguais em todos os seres humanos, correndo estes o risco de entrar em conflitos interiores e confusões.



Realizado por: Carina Afonso 52329

"O tempo está desarticulado" ( Natureza e Espirito pags. 189-195)

As Universidades de hoje ensinam o que é novo e moderno. Contudo o ensino baseia-se em pressuposições ou premissas do pensamento antiquadas e “ obsoletas”.
Refere-se a noções como:o dualismo cartesiano que separa “espírito” e “matéria”;o fisicalismo das metáfora;a suposição antiestetica.
Todos os aspectos da nossa civilização se encontram divididos.
No que diz respeito à vertente económica encontramos duas exageradas caricaturas da vida (a capitalista ou a comunista). No campo do pensamento estamos divididos entre vários extremos de falta de sentimento e a forte corrente do fanatismo anti-intelectual.
Na religião as garantias constitucionais da liberdade religiosa parecem facultar exageros semelhantes: um protestantismo estranho e totalmente secular, um vasto espectro de cultos mágicos, e a ignorância religiosa total.
O corpo dos membros do Conselho concentra a sua atenção sobre questões que podem ser abordadas a um nível superficial, evitando os pântanos de todas as espécies de extremismos. Mas, apesar de tudo, as questões obsoletas acabarão por chamar a atenção.
Os estudantes nos anos de sessenta é que tinham razão: havia alguma coisa de errado na sua educação e, na realidade, em quase toda a cultura. Lutaram pela representação e pelo poder.
A absolência permanece inalterável, e dentro de poucos anos iremos em duvida assistir de novo, ás mesmas batalhas travadas em nome dessas falsas questões.
Há de facto qualquer coisa de errado e o que está errado não se trata da tribulação necessária acerca da qual nada pode ser feito.
Uma espécie de liberdade advém do reconhecimento das questões. Num sistema estático não existiria tal absolência.
Parece que existem duas componentes do processo evolucionário e que o processo mental é, duma forma semelhante, dotado de uma estrutura dupla.
A sobrevivência depende de dois fenómenos ou processos contrastantes, duas formas de alcançar a acção adaptável. A evolução tem duas direcções: para dentro, no sentido das regularidades do desenvolvimento e da fisiologia da criatura viva, e para fora, no sentido das fantasias e das exigências do ambiente. Estas duas componentes necessárias da vida opõem-se entre si, sob formas interessantes.


Realizado por: Filipa Pereira 52324